google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 OS QUATRO CAVALEIROS DOS APOCALIPSE EDITORIAL - AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

OS QUATRO CAVALEIROS DOS APOCALIPSE EDITORIAL

Há algum tempo escrevi umas linhas para uma colega jornalista, resultado de bate-papo durante o jantar num lançamento. A conversa versava sobre os repetidos e inadmissíveis erros dos jornalistas brasileiros quanto a alguns termos e conceitos. que informavam mal e, pior, deseducavam. A essas linhas dei o nome de "Os quatro cavaleiros do apocalipse editorial brasileiro". Vamos a eles:

Cilindradas


Nunca se deve escrever ou dizer "1.600 cilindradas", pois cilindrada não é unidade de volume, mas uma medida, uma grandeza. Cilindrada é o volume total deslocado pelos pistões e as unidades de volume no nosso sistema de medidas são o centímetro cúbico (cm³) e o litro (l ou L).

No exemplo acima só se pode escrever "1.600 cm³". Como 1.000 cm³ é igual a 1 litro, quem não quiser usar centímetro cúbico pode usar litro. No caso, 1,6 litro. Mas nunca 1.6 litro: a parte inteira da fracionária se separa por vírgula, não por ponto.


Quem escreve "1.600 cilindradas" incorre no mesmo erro de dizer, por exemplo, que da capital paulista a Santos são 100 distâncias. Ou que do piso ao teto da sala são 3 alturas.

Outra distorção que assola o país — e só este país — é dizer "motor um-ponto-zero" ou escrever motor 1.0, por exemplo. A rigor, isso nada significa. Devem os locutores e escribas usar "motor de 1 litro" ou "motor 1-litro", respectivamente. Assim escreve e fala o mundo.

E há ainda os que insistem em escrever, por exemplo, "motor de 2,0 litros", notação errada, zero após a vírgula. Se for escrito "motor de 2 litros" garanto que todo mundo vai entender.

Montadora
Este é, com certeza absoluta, o mais feroz dos cavaleiros. Tomou conta da mídia com um vigor e resistência impressionantes. Ao ponto de traduções publicadas em revistas e jornais automaker virar 'montadora' como num passe de mágica.

Os carros nacionais, sem exceção, são produzidos em fábricas de automóveis e não em simples montadoras. Nas fábricas, gigantescas prensas estampaM as carrocerias, que depois passam por processo de solda (hoje por robôs) e complexas instalações de pintura. As principais peças dos motores (bloco, virabrequim, cabeçote, árvore de comando de válvulas) são nelas usinados, e a maioria produz o transeixo completo.

O termo 'montadora' é utilizado erroneamente e com toda certeza vem do tempo em que os veículos Ford e Chevrolet eram montados no Brasil, após aqui chegarem completamente desmontados (CKD). Em lugar de 'montadora' pode-se e deve-se usar fábrica, fabricante, empresa, como, aliás, se faz no resto do mundo. Não há razão para sermos diferentes.

Alguém alguma vez ouviu falar a respeito de feirões como sendo "feirões de montadora", ou que um carro usado ainda tem garantia de montadora? Ou uma equipe de competição ser "equipe de montadora"?

Do jeito que vai, as futuras gerações não saberão que no Brasil há fábricas de automóveis. Só montadoras.

Piloto automático
Trata-se de dispositivo existente nos aviões a partir do final dos anos 1930. Quando o piloto liga o dispositivo (automatic pilot ou autopilot), a aeronave segue voando sozinha, na velocidade, altitude e rumo pré-escolhidos. O piloto pode até tirar uma soneca, se quiser.

Nos automóveis o que existe é o controlador automático de velocidade, que apenas mantém a velocidade escolhida no plano, nas subidas e nas descidas suaves (se a descida for forte, o sistema não aplica freios e nem reduz marcha). Mesmo com "piloto automático" do automóvel ligado, continua a ser indispensável o motorista dar direção ao veículo. Portanto, não é "piloto" coisa alguma.

Brake lightNo início dos anos 1980 surgiu nos Estados Unidos um equipamento original chamado center, high-mounted stop light, que os americanos, doidos por uma sigla, chamaram de CHMSL. Era uma luz de freio montada em posição mais alta em relação às outras duas, portanto uma terceira luz de freio.

Sua finalidade era permitir que motoristas vissem mais facilmente o carro da frente freando, e até outros adiante, e com isso reduzir as possibilidades de colisões traseiras (e isso funciona mesmo).

Mais para o fim daquela década a Arteb, brasileira, passou a oferecer essa terceira luz de freio como acessório e a ela deu o nome comercial de "Brake Light": pronto, foi o bastante para que todo mundo achasse que a luz de freio adicional e complementar se chamava 'brake light', cujo significado em inglês até criança das periferias sabe.

Alguns fabricantes usam "terceira luz de freio", mas há os que insistem em 'brake light' até nas fichas técnicas oficiais.

Pior que isso, grafam errado a palavra, escrevendo 'break'.

Só mesmo a tropa de elite do Capitão Nascimento para acabar com esses cavaleiros...

BS

6 comentários :

  1. Esse é o Bob!!!
    Excelente.

    ResponderExcluir
  2. Fala Bob,

    Parabéns!!! Temos muitos outros exemplos, como câmbio mecânico, o correto é manual, entre outras pérolas.

    abraços,

    Mazzeo

    ResponderExcluir
  3. Muito bom!!
    Capitão Nascimento a caminho!!

    ResponderExcluir
  4. O problema é que os veículos impressos, principalmente aqui no Rio, cada vez mais contratam estagiários na área Automotiva (justiça seja feita, com exceção de O Dia e O Globo). Veja nas TVs, por exemplo: o que os locutores e comentaristas falam de batatadas é um grandeza. Aqui em casa prefiro ouvir o Canal Speed em castelhano (o inglês também é ruinzinho), do que em português. Parece que o pré-requisito pra trabalhar lá é não entender e nem querer aprender nada de corridas, carros etc. O exemplo está aqui mesmo: como um Mahar não está num jornal? Tenho um amigo, na faixa dos 40 anos, formado em Jornalismo, que é o tipo que sabe a diferença entre as lanternas do Ford 32, para o 33 e hoje vende ferramentas. Marcos e Paulo Sergio Valle, sem saber, criaram a máxima do Jornalismo de hoje: "não confie (nem contrate), ninguém com mais de 30 anos".

    ResponderExcluir
  5. O pior é quando dizem, por exemplo, 1,6 (ou 1.6) litroS ou 1,8 LitroS, sempre no plural. Acho que eles não sabem que se deveria usar o plural apenas de 2 em diante, até 1,99, é litro. Até mesmo na TV aberta, nesses "programas automotivos" a "montadora" está sempre lá. E até uns caras cascudos no jornalismo cometem essa heresia. Em breve os preços dos carros serão anunciados como sendo "preço de nota fiscal de montadora"! De tanto ouvir coisa errada eu fico me policiando pra não entrar no jogo deles. Por aqui tem algumas oficinas que reparam "moçonete" ou "mocinética", hilário, porém, triste...

    ResponderExcluir
  6. Bem coloca a matéria até por um questão de ética profissional. Mesmo o termo "cilindrada", pelo menos a mim, não soa muito bem... Ainda prefiro deslocamento. Mas já escutei em oficinas coisas como "tirar o motor fora de giragem" em alusão a ultrapassar o limite de giros do motor. Mesmo o termo retífica acho meio errado pois a operação é retificação e a máquina operatriz chama-se retificadora... a operação é retificar... de onde veio retífica???

    ResponderExcluir

Pedimos desculpas mas os comentários deste site estão desativados.
Por favor consulte www.autoentusiastas.com.br ou clique na aba contato da barra superior deste site.
Atenciosamente,
Autoentusiastas.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.