google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 E O FÁBIO LARGOU... - AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

E O FÁBIO LARGOU...




Era 16 de junho de 2007. Há muito que eu fazia questão de assistir a "Subida de Montanha Internacional de Autos Clássicos e Esporte", organizada pelo Eduardo Pessoa de Melo através do Auto Union DKW Club do Brasil. Valia a pena acordar com as galinhas para encontrar velhos amigos e ver (e rever) automóveis antigos diversos, dos mais singelos aos mais sofisticados e exclusivos.

No caso, o evento se encontrava em sua 27ª edição e naquela época eu ainda escrevia para a saudosa revista Oficina Mecânica, editada pelo amigo Josias Silveira e pelo seu filho Guilherme (o Badu). Tudo funcionava em cima da hora: eu ligava para o Badu de madrugada e avisava " indo pro Pico do Jaraguá, quer umas fotos?".

O Badu, como bom amigo e com o orçamento da revista sempre apertado, sempre dava um jeito de encaixar o evento na revista, com um textinho que eu mandava junto com as fotos. Naquele dia, todo mundo só tinha olhos para o Maverick branco do Batistinha (que havia acabado de estabelecer o novo recorde de 2m33,17s), o malvado Dodge Charger R/T do Emílio Lozada ou o Opel GT do Rubens Duailibi.

Já eu fiquei encantado com um certo Alfa Romeo 2000 1973 e decidi gravar o vídeo acima. Imaculado, num azul que constrastava com o interior claro, evidenciando o volante e a manopla do câmbio naquela disposição típica da escola italiana. Ma che bella macchina! Deu para entender por que esse povo comedor de massa trata seus automóveis como se mulheres fossem. O carro (ou macchina, como preferir) pertencia ao Fábio Steinbruch, mas infelizmente não pude ficar para bater papo com ele no churrasco ao fim do evento.

Os anos passaram e acabei assumindo duas seções sobre autos antigos na revista Quatro Rodas, denominadas "Grandes Carros" e "Grandes Brasileiros". Eu já fazia parte da equipe de colaboradores da revista quando fui indicado pelo competente Fabiano Pereira para sucedê-lo na árdua tarefa de garimpar e organizar uma complexa logística que vai do transporte dos automóveis até a locação do estúdio, trabalho que vai muito além da simples redação. Sem falar nos imprevistos, de "modelo" que dá o cano na última hora ao Saab do Valter, que acabou avariado após rodar apenas alguns metros.

É sempre uma grande responsabilidade, mas que é recompensada pelas novas amizades que vão surgindo. O amigo, alfista e jornalista Roberto Nasser disse uma vez que já estava velho demais para fazer "novos velhos amigos", mas essa tarefa ainda é possível para mim, já que mal passei dos 30 anos de idade. Mas pelo menos uma dessas amizades restará breve: a amizade com outro alfista, o Fábio Steinbruch.

O Portuga Tavares foi um desses amigos que sempre me socorreram nos piores momentos, quando encontrar algo novo e inédito parecia uma missão impossível. O Portuga batia o olho na minha listinha rabiscada e dizia, "O Fábio Steinbruch tem esse, e mais esse, e esse... É só falar com ele e agendar um dia para ver o acervo". O Fabiano Pereira também vivia falando para entrar em contato com o Fábio e chegou até a me indicar para conhecer o acervo no dia da festa do aniversário dele, em março deste ano, ocasião em que apenas o Bob pôde comparecer.

Depois de muito protelar, não teve mais jeito: o diretor de redação da Quatro Rodas, Sérgio Berezovsky, nos avisou que o Fábio havia acabado de adquirir um bugue Kadron em excelente estado, que seria perfeito para ilustrar a seção "Grandes Brasileiros". Liguei para o Fábio na semana passada e falei que dessa vez não tinha mais desculpa: eu iria finalmente conhecer a garagem onde ficava o acervo dele.

Como moro em Piracicaba, combinei com a secretária dele, a Débora Dias, que eu iria no domingo, logo após o almoço. No sábado liguei para a garagem e confirmei minha presença, quando fui avisado de que o Fábio estaria lá. Menos mal: ninguém melhor do que o próprio dono para falar de suas preciosidades.

Cheguei por volta das 13h00 e estacionei meu carro dentro da garagem, um enorme conjunto de galpões industriais recheado de antigüidades automobilísticas de todos os cantos do mundo. A predileção do Fábio pelos Alfa Romeo era visível, dada a quantidade de modelos de rua e de pista, sem falar no material publicitário espalhado pelos cantos. Não à toa, fundou o Alfa Romeo Clube do Brasil.

Em questão de minutos reencontrei minha velha amiga, a berlina Alfa Romeo 2000 azul fabricada em 1973, a mesma que o Fábio havia pilotado na 27ª Subida de Montanha. Permanecia imaculada e ainda mais reluzente, um grande destaque entre todas, por razões íntimas do meu subconsciente.

Foto: maxicar.com.br


Foi nesse momento que o Fábio chegou, já rindo da minha camiseta com a estampa de um Fórmula Vê... Provavelmente ele me imaginou dentro do Fórmula Vê, mas não importa, aproveitamos para ver o bugue Kadron que ele havia comentado com o Berê(zovsky) e logo depois voltamos para os Alfas, ainda que não fossem o escopo da nossa reunião.

Ficamos ali discutindo detalhes e minúcias que iam das hastes das válvulas de escapamento refrigeradas a sódio até o balanceamento do cardã de um Giulia, problema que ele me confessou ser impossível de ser resolvido aqui no Brasil. Bate-papo dos bons, coisa de autoentusiastas mesmo, momentos únicos de aprendizado.

Lá para o meio da tarde ele se despediu, deixando bem claro que era para eu ficar à vontade, para ver o que quisesse e que depois era só agendar para fotografar os carros. Estava terminando de fazer algumas anotações quando ouvi o som de um motor DKW saindo da garagem e urrando pelas ruas do distrito do Belém. O ambiente havia ficado terrivelmente sem graça sem a presença dele, o que me fez deixar o local minutos após o amigo.

Foi só no final da noite que o Bob me avisou que o mundo havia acabado de ficar terrivelmente sem graça sem a presença do Fábio...Um choque, ainda me custa a acreditar que eu estava ali batendo papo com ele e que menos de duas horas depois ele encontraria o seu momento fatídico, aquele do qual nenhum de nós escapará.

Prefiro encarar essa realidade sob outro ponto de vista: para mim, o Fábio largou... Não no Pico do Jaraguá, mas no pé da montanha da vida, a bordo de seu Alfa 2000 1973. Quebrou seu próprio recorde e está lá em cima feliz da vida, apenas esperando que a gente faça o mesmo.

Vá com Deus, amigo! E muito obrigado por tudo!



FB

P.S.: O Bob atualizou o post de domingo sobre a morte do Fábio.

32 comentários :

  1. Meu comentário está no post atualizado do Bob.

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    1. esse é o Mr. Mala

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    2. E dai? Se pelo menos fosse um comentário interessante. Fala groselha e ainda anuncia. é cada um...

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    3. Bom saber, assim podemos zoar vc lá também.

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  2. Bitu,

    Bonito post em homenagem ao recente amigo. Deve ter sido impressionante para você ter estado com ele poucas horas antes do fatídico acidente e logo após ter recebido a noticia de pesar. Fica aquela certeza de que a vida é imprevisivel e num átimo tudo pode mudar, já que pela cabeça de vocês dois tal fato estava ausente de cogitação. Ficam as boas amizades, o bom caráter e as boas obras em prol do próximo que realizamos, já que as coisas materiais nao levamos junto. E como não sabemos a hora de "largar", vigiemos nossas ações e pensamentos do dia-a dia.
    Abraço!

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  3. Alguém sabe se ele teve a oportunidade de passar um pouco do "Cuore Esportivo" dele para algum descendente?

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    1. Perneta
      Que eu saiba, não; o casal ainda não tinha filhos.

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  4. Grande Bitu! Estava fazendo falta.
    Saudades das histórias quânticas polarizadas.

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  5. Bom, se serve de alento, pelo menos morreu fazendo o que gostava, tenho certeza de que viveu plenamente enquanto pôde. Requiescat in pace!

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  6. de tanta simplicidade a gente se sentia pequeno diante dele.... era difícil acreditar que aquela pessoa humilde, discreta e tímida fosse quem era...

    Guilherme

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  7. Rafael Bruno Pinto04/12/2012, 14:38

    Caramba FB, é você quem escreve ( ou escrevia) essa sessão? É a melhor das 4Rodas! Só carros impecáveis e que mal conhecia!
    Também achei que você era mais velho...rs
    Vi uma matéria na 4Rodas Clássicos com o galpão dele. È de babar. Acho que ele está melhor que nós.
    Parabéns pelo ótimo texto, novamente!

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    1. Rafael

      Sucedi o Fabiano Pereira, ou seja, não foi nada fácil.

      Por mais que eu tente, sempre sinto que fico devendo em relação ao amigo.

      FB

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    2. Rafael Bruno Pinto04/12/2012, 16:12

      Muito bom!
      Ah, temos em casa um Puma Gte 79 placa preta..caso interesse alguma matéria...
      Grande abraço!

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  8. FB,

    Imagino o seu choque ao receber esta noticia. É ruim perder amigos e gente de bem, que trabalha pra tornar este lugar um pouco menos péssimo.
    Bela homenagem!

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  9. Post muito bacana, daqueles de dar um nózinho na garganta ao final da leitura. Mostra um pouco do entusiasmo que o Fábio tinha pelos automóveis. Apareça mais por aqui!

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  10. Alfa... ahhh as Alfas!!! Sempre apaixonantes independente de idade, potência e confiabilidade! Mesmo as da era FIAT ainda conseguem ser belas e estoteantes!

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  11. Excelente texto, tenho certeza que Fábio sentiu-se orgulhoso ao lê-lo.

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  12. Além das Alfas, o Fábio adorava os Dodge nacionais, principalmente os "Dodginhos" 1800 e o Polara, sendo que esse último foi seu primeiro carro.

    Um grande sujeito que infelizmente nos deixou tão cedo. Se tivesse mais tempo aqui nesse plano, acho que ele até conseguiria convencer o Bitu que os dodginhos eram sim, ótimos carros.

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  13. O Bitu tem gosto eclético e até agora não consegui saber, afinal das contas, qual é sua paixão. Bela homenagem a um cara diferenciado Bitú. Poucos são.

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  14. Putz B2, que barra, hein!

    Isso me lembrou o falecimento do nosso amigo Dreike. Num dia o cara tava correndo de kart com a gente, no outro eu recebo algumas ligações falando do fatídico acidente que ele sofreu.

    Minhas condolências.

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  15. Bitu,

    Bonita homenagem, me emocionei lendo. Sinto que o seu amigo tenha largado tão cedo. Minhas condolências.

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  16. Bitu
    Bela homenagem..
    Volte a escrever no blog , voce tem muito a contribuir e dividir conosco.

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  17. Bitu,

    Gosto muito da maneira simples e emocionante que você escreve.

    Parabéns, pelo texto, o qual muito não devem ter gostado, mas é a pura realidade de quem gosta de automóvel ou motocicleta, em um minuto estão entre nós e no segundo seguinte não estão mais.

    Abraços e fico triste por voce ter passado por isso.

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  18. Bitu, Belo texto.

    Quanto a triste e lamentável "Largada" do Fabio, so resta lembrar de um comentario de um amigo que nao se cansa em dizer que "Quando o passaporte tá carimbado, nao tem jeito".

    A mais pura verdade, lembrando que há aproximadamente um ano faleceu um Sr. Japonês que sobrevivera aos dois ataques de bomba atômica no final da II grande guerra...

    Fernando RD

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  19. Ótimo texto, bela homenagem!

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  20. Bitu ,amizades de verdade são eternas e permanecem no nosso coração , parabéns pela homenagem .

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  21. Sou um cara sortudo e honrado, pude chamar Fábio Steinbruch de amigo. No inicio desta minha carreira de "escrevinhador", ainda aprendendo sobre os carros que já gostava, lá estava o Steinbruch me ajudando. Compartilhando informações e emprestando seus carros para matérias.

    Nas épocas das vacas magras e orçamento apertado de uma revista independente sem recursos e que pouco dava de lucro, o Fábio dava as chaves dos carros em minhas mãos e dizia, vai lá, faça. Sempre bem acompanhado do fiel escudeiro - que cuidava dos carros em matérias - Leandro swoboda, saíamos para fotografar os veículos, sempre em meio a risos.

    Décadas passaram e continuei usando, eventualmente, carros da coleção em matérias, sempre no mesmo esquema, o Fábio sem querer aparecer, mas cedendo os carros e o Leandro cuidando dos veículos, sempre os mesmos risos.

    Infelizmente, neste domingo o Leandro me ligou em meio as lágrimas, avisando que não poderíamos mais gravar com três veículos da coleção, pois o Fábio acabara de sofrer um acidente... e se foi! Paralizei, disse um palavrão e as lágrimas também me vieram aos olhos.

    Juro que tentei escrever algum post, assim que soube da morte queria avisar aos amigos, mas no fundo esperava que fosse uma brincadeira de mal gosto, infelizmente não era.

    A segunda-feira foi um dia terrível, estava em um ambiente com jornalistas do setor automobilístico, pilotos de todas as épocas, colecionadores, mecânicos, restauradores, enfim diversos homens ligados à graxa, sofrendo - cada um a sua maneira - a perda de um amigo, companheiro e exemplo.

    Um homem que levava, rodando, mais de uma dúzia de carros aos grandes eventos e circulava por lá na maior simplicidade, humildade e no anonimato é um exemplo do quanto desprovido de vaidade ele era... ou melhor é!

    Meu amigo Fábio Steinbruch, me recuso a dizer adeus, me conformo em dizer até logo e vá esquentando os motores, porque ainda aceleraremos muitos por ai, seja onde for!

    Abraços do seu amigo Portuga Tavares.

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    1. Portuga Tavares,
      Saiu o post que você desejava ter escrito ao saber da fatídica notícia. Pelo que tenho lido a respeito do Fábio Steinbruch, você, entre os demais amigos e familiares desse grande homem, foram de fato privilegiados por terem convivido com alguém como ele. Ficam agora, pelo menos, as boas lembranças vividas em comum.

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    2. Pois é Road Runner,

      O post saiu e foi brilhante escrito pelo Felipe Bitu, que o fez com capacidades muito maiores às minhas, isso com certeza.

      Durante o velório do Fábio, comentei com o Bob que deveríamos fazer a homenagem, mas sinceramente não tive cabeça para faze-lo.

      Ainda bem que a inspiração veio ao Bitu e ele fez com maestria.

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  22. Tava achando que era um LADA, e não um Alfa.

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  23. Eu tive um rápido contato com o Fábio Steinbruch, justamente nesse evento narrado pelo Felipe Bitu. Na época escrevia para as revistas Fusca/Opala&cia e fui incumbido pelo editor junto com o fotografo Saulo Mazzoni, para fazermos algumas imagens. Logo após o fim da disputa fomos convidado para um churrasco.

    Foi durante um bate-papo aqui outro lá que o Fábio veio até Saulo e eu. Fui apresentado ao Fábio e nós três tivemos uma conversa sobre a Subida da montanha, a coleção dele.

    Também tive a honra de poder conhecer a coleção dele por intermédio do Leandro Swoboda que é responsável por levar os carros para fotografar. Fábio cedeu sua bela Alfa Romeo 2300, para uma matéria na extinta revista 4Rodas Clássicos, quando fizemos uma reportagem sobre a história das Alfas 2300. Na edição 12 da 4Rodas Clássicos há uma matéria sobre a coleção dele, vale a pena recordar.

    Mesmo não sendo próximo a ele confesso que fiquei triste quando soube da notícia. Enfim, foi uma grande perda!!

    Anderson Nunes

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